sábado, 13 de novembro de 2010

A Importância da Arte e o processo de criação como instrumento terapêutico.

  O processo de criação é, segundo Salles (2004) arte abordada sob o ponto de vista do fazer, dentro de um contexto histórico, social e artístico. Um movimento feito de sensações, ações e pensamentos, sofrendo intervenção do consciente e do inconsciente. A expressão criativa é a primeira linguagem com a qual o homem vivencia e traduz suas experiências de vida. É um dom inato, inerente, portanto, à natureza humana, espontâneo. É notório que toda criança tem grande capacidade para experimentar e transformar os objetos com grande criatividade e liberdade, mas esta espontaneidade, na maioria das vezes, se perde com a socialização.
  Os relatos históricos referentes às manifestações culturais, demonstram que ao longo da Antiguidade, a Arte era usada como forma de cada sociedade expressar sua concepção de mundo. Em muitos casos a coesão do grupo era mantida através de ritos e mitos representados nas mais variadas formas de manifestação criativa, seja através de esculturas, danças, pinturas, contos, dramatização. Para os Gregos, a Arte em todas as suas expressões, era encarada como curativa para os males da alma, tanto do artista como para o espectador.
  De certo modo, pode-se afirmar que a Arteterapia resgata essa tradição, já que considera as atividades criativas, expressivas, como elementos terapêuticos de grande poder transformador. Dependendo do arcabouço teórico que se considere, pode-se conceituar a Arteterapia de diferentes maneiras, mas todas têm em comum esta idéia do poder curativo e transformador da atividade criativa.
  O despertar do interesse pelas atividades artísticas dos doentes mentais como manifestação de seu mundo subjetivo ocorre entre fins do século XIX e início do Século XX. Entre 1872 a 1909, a Arte era utilizada por criminalistas e psiquiatras para diagnóstico e classificação de doenças mentais. Nas primeiras décadas do século XX vários autores, fora da psiquiatria, passam a promover a idéia da existência de possibilidades criadoras e de uma estética e expressão artística também nos doentes metais, independente da desagregação da personalidade. Simultaneamente, Freud com a Psicanálise, (entre 1906 a 1913) aponta a importância da comunicação simbólica e busca a compreensão da dinâmica psíquica através de estudo das obras de artistas consagrados, tais como Leonardo Da Vinci e Michelangelo.
  A partir da década de 1920, Carl Jung passa a utilizar a Arte não só como instrumento de diagnóstico, mas como parte do tratamento psicoterápico. Segundo os estudiosos, foi Jung o primeiro a utilizar a expressão artística em consultório. Para ele, é na arte que se dá a simbolização do inconsciente individual e do coletivo e, a partir desta idéia, utilizava a expressão artística, aliada à expressão verbal, como componente de cura. Como forma de tratamento pedia aos clientes que fizessem desenhos livres, imagens de sentimentos, de sonhos, de situações conflituosas ou outras. Ao contrário de Freud – que interpretava a arte como sublimação de conteúdos e desejos reprimidos - Jung afirmou que a criatividade tem uma função psíquica natural, inata e estruturante da personalidade.
  Em 1925/27, a Dra. Ita Wegman na Suíça, Dr. Steiner e o Dr. Husseman, na Alemanha, prescreviam a arte como parte do tratamento médico.
  De outra parte, o interesse e reconhecimento da produção criativa dos doentes mentais como manifestação artística inspirou o surgimento de importantes movimentos de vanguarda artística gerando novos paradigmas no âmbito das Artes Plásticas, tais como o expressionismo e o surrealismo e a arte dos doentes mentais passa a ser valorizada e a ganhar espaço em museus europeus.
  No Brasil, destacam-se os trabalhos da psiquiatra junguiana Nise da Silveira, que fundou o Museu de imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro e o psiquiatra paulista Osório César, que desenvolveu seu trabalho no Hospital do Juqueri, em São Paulo, onde criou, em 1925, a Escola Livre de Artes Plásticas do Juqueri.
  A partir destas iniciativas nos campos da Psiquiatria e da Arte, de valorização da arte dos doentes mentais e da difusão da idéia de que a produção artística pode trazer benefícios psíquicos, surge a Arteterapia, em especial nos Estados Unidos (anos 40). Muitos autores destacam o trabalho de Margaret Naumburg (1941) que sistematiza a Arteterapia dando impulso ao uso da Arte no processo terapêutico, com ênfase em trabalhos corporais; de Florence Cane, que descobriu que a Arte tinha o poder de liberar saúde psíquica, e escreveu “O artista em cada um de nós” (1941); e Edith Kramer, com o livro “Arte como terapia” (1958).

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