quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Técnicas Surrealistas em Arteterapia

   O Surrealismo foi um movimento artístico e literário surgido primariamente em Paris dos anos 20, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo, reunindo artistas anteriormente ligados ao Dadaísmo, posteriormente expandido-se para outros países. Em 1924, André Breton publica o primeiro manifesto surrealista. Interessado pela psicanálise, Breton difundiu entre os artistas uma nova fonte de criação: o inconsciente, já abordado, de certa forma, por Kandisnsky e Paul Klee, este considerado como precursor do Surrealismo devido a suas pesquisas tais como exploração dos símbolos e aproveitamento da linguagem da criação infantil e dos loucos ( Puhl, Ria Breyer – "As Artes no Século XX")
  Fortemente influenciado pela Psicanálise, o Surrealismo enfatiza o papel do inconsciente na atividade criativa, e se manifesta sob dois aspectos: o das experiências criativas automáticas, na qual a obra que emerge do inconsciente resulta de uma livre associação de idéias sem preocupação com o sentido e o outro que se utiliza, como tema os conteúdos tirados do mudo dos sonhos. Há, então uma fusão do sonho com o real, do consciente com o inconsciente, para criar uma super-realidade. Os surrealistas baseiam-se nas pesquisas de Freud, principalmente na visão do mundo onírico, o mundo dos sonhos. É a pesquisa de um mundo novo, fantástico, desconhecido, invisível. É, pois, no sonho, com suas conotações freudianas, que reside o mistério do Surrealismo, nome trazido do francês surreallisme, mas que em português seria correto chamar-se de supra-realismo, ou seja, além da realidade imediata.( Puhl, Ria B).
   Deste forma, segundo os surrealistas, a arte deve se libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência quotidiana, expressando o inconsciente e os sonhos.
  Os artistas surrealismo enfatizam a técnica do automatismo psíquico pelo qual pretendem expressar, seja pela escrita, seja pela imagem pictória, o conteúdo do inconsciente, como algo que está além da realidade aparente. Assim, a grande contribuição do Surrealismo é esta busca do impulso criador nas forças energéticas do inconsciente. O processo de criação de imagens revela conteúdos inconscientes. Na prática, se estabelece um diálogo entre consciente e inconsciente, no qual o artista tenta colocar o seu inconsciente em contato com a obra de arte, recorrendo a elementos como sonhos, mitos, a fantasia, a alucinação, gerando várias possibilidades de expressão.
  Todas as técnicas de criação utilizadas pelos surrealistas, tais como: a pintura espontânea, a colagem, a sobreposições de imagens, tiveram o objetivo de originar imagens aleatórias como expressão da idéia centrada no acaso e na impulsividade criativa.
  Sobre a pintura espontânea diz Susan Bello ("Pintando sua Alma-Método de Desenvolvimento da Personalidade Criativa", 2007, pg.35): A pintura Espontânea, embora pareça simples, é um ato profundo através do qual pintamos as emoções que vivem na nossa mente inconsciente. Um de nossos objetivos é abrir um canal para que a expressão inconsciente ocorra. Podemos ultrapassar o neocórtex (cadeia de conhecimento intelectual) e as proibições do ego. Proporcionamos a esses conteúdos que residem no inconsciente pessoal e no inconsciente coletivo uma área para a auto-expressão: a tela
  Se levarmos em conta a criatividade como a capacidade de buscar novas idéias e soluções, de superar obstáculos e de entendermos de forma profunda a nós mesmos, podemos avaliar o alto grau de potencialidade terapêutica que se encerra nas técnicas desenvolvidas pelo Surrealismo na criação de imagens plásticas. Para a Arteterapia este processo de criação de imagens tem grande importância, como um eficaz meio de comunicação não verbal e como auxiliar no processo de mudança e de desenvolvimento e individuação pessoal.
  Segundo Jung a Arte tem sua origem no inconsciente, onde se encontra o centro da criatividade. Os procedimentos e técnicas e, inclusive o material utilizado pelos artistas surrealistas oferecem a possibilidade de veicular sentimentos, temores, idéias, conflitos, e se caracterizam por ser facilmente realizável por qualquer pessoa, quer tenha ou não conhecimento artístico, além de  oportunizarem o contato com as camadas mais profundas da mente humana.
  A pintura espontânea, como metodologia de acesso ao inconsciente, realizada sob condições terapêutica, pode constituir um valioso instrumento no tratamento de qualquer pessoa, independentemente de sua condição, idade, situação social, seja em tratamento individual, coletivo, institucional ou particular(Dowmat, Lilia Cristina Polo – "Técnicas Plásticas Del Arte Moderno Y La Posibilidad De Su Aplicación En Arte Terapia". – Madrid, 2003 – Internet).
  Neste sentido, a Arteterapia, utilizando-se de modalidades expressivas surrealistas, sob o ponto de vista da teoria junguiana, possibilita a materialização de símbolos que, nas palavras de Angela Philippini, expressam e representam níveis profundos e inconscientes da psique, configurando um documentário que permite o confronto, no nível da consciência, destas informações, propiciando “insights” e posterior transformação e expansão da estrutura psíquica (Philippini, Ângela - "Universo Junguiano e Arteterapia - Imagens da Transformação" - Revista de Arteterapia – Vol. V – Pomar – 1998)


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